da Folha Online
da France Presse, em Lima
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse nesta sexta-feira, durante breve visita à capital peruana, Lima, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer conversar com o seu colega americano, Barack Obama, sobre temas regionais como o mal-estar gerado pela presença militar dos Estados Unidos na Colômbia e a crise política em Honduras.
"Existe intenção de conversar [com Obama] sobre estes temas", disse Amorim, antes de esclarecer que a reunião bilateral "ainda não foi solicitada formalmente".
"Nós já entramos em contato com altas esferas do governo dos EUA e há interesse neste diálogo sobre temas regionais", acrescentou o chanceler brasileiro em entrevista coletiva, depois de assinar com o seu colega peruano, José Garcia Belaunde, diversos acordos de cooperação na fronteira comum.
Em Lima, o chanceler brasileiro reiterou que o aumento da presença americana na Colômbia "é um tema de preocupação para muitos países" da região, mas ressaltou que o Brasil está disposto a ouvir os argumentos dos EUA.
Se aprovado, o acordo permitirá aos EUA manter 1.400 pessoas, entre militares e civis, em bases na Colômbia, pelos próximos dez anos. Os dois aliados afirmam que o acordo não é novo, mas apenas uma extensão do acordo de combate ao narcotráfico e às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) chamado de Plano Colômbia; e argumentam que todas as bases ficarão sob o controle colombiano.
No entanto, o acordo gerou tensão e discursos sobre uma possível corrida armamentista na região. No Brasil, o assunto gerou especial desconfiança depois de vir à tona a informação de que os aviões americanos que operarão na base de Palanquero, no centro da Colômbia, têm um raio de ação muito superior ao necessário para o combate ao narcotráfico.
Nesta sexta-feira, o chanceler pediu que, caso haja mesmo a presença militar, ela não seja "desproporcionada", assim como "garantias jurídicas de que estes soldados e equipamentos não serão utilizados de uma maneira que possa comprometer a segurança de outros países".
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chegou a dizer, segunda-feira (10), na cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), em Quito (Equador), que a presença militar dos EUA na Colômbia "pode gerar uma guerra na América do Sul", e afirmou que seu país está se preparando porque se sente "na mira". "Cumpro com minha obrigação moral de alertar: ventos de guerra começam a soprar", disse.
Honduras
Sobre a deposição do presidente Manuel Zelaya, em Honduras, o chanceler frisou que "sem nenhum tipo de intervenção e sob auspícios da OEA (Organização dos Estados Americanos), os EUA têm mais poder do que qualquer outro país para convencer o governo interino". "Há um interesse óbvio em restaurar a democracia em Honduras", disse Amorim, conforme havia dito após reunião com o próprio Zelaya, em Brasília, nesta quarta-feira (12).
Os EUA, que já cortaram verbas destinadas a Honduras, já anunciaram que planejam cortar mais US$ 25 milhões em assistência, além de manter a sua proibição de concessão de vistos diplomáticos a membros do governo interino, mas se recusam a adotar "sanções econômicas sufocantes". Os americanos compram 40,6% das exportações hondurenhas.
Na semana passada, o chanceler já tinha pedido ao assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, general Jim Jones, também em Brasília, que o país bloqueasse as contas bancárias de Micheletti e aumentasse a asfixia econômica do governo interino. No dia seguinte, porém, o presidente Barack Obama disse achar "irônico" que as nações que "criticaram a ingerência dos EUA na América Latina estejam reclamando agora que o país não interfere o suficiente".
Nos últimos dias, Obama reiterou em várias ocasiões que apoia o retorno de Zelaya ao poder, mas, na entrevista de sexta passada (7), disse que não pode "apertar um botão e restitui-lo".
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