domingo, 29 de novembro de 2009
Hondurenhos vão às urnas em meio a grave crise política
Estão em jogo os cargos de presidente, 128 assentos no legislativo e 298 de representantes locais.
Os mais cotados para assumir em janeiro o próximo mandato presidencial de quatro anos são o conservador Porfírio "Pepe" Lobo, do Partido Nacional, e Elvin Santos, do Partido Liberal, o mesmo do presidente deposto Manuel Zelaya e do interino, atualmente afastado, Roberto Micheletti.
Fontes da comissão eleitoral dizem acreditar ser possível ter uma boa ideia de quem será o presidente eleito já na noite de domingo, mas as incertezas relativas à crise política hondurenha podem durar mais.
Comparecimento e legitimidade A comunidade internacional está dividida sobre reconhecer estas eleições. Brasil, Argentina, Venezuela e Nicarágua estão entre os países que afirmam que o pleito é ilegítimo.
Outros, a começar pelos Estados Unidos, condenaram a deposição do presidente eleito Manuel Zelaya, mas dizem acreditar que o pleito seja a melhor forma de sanar a crise política hondurenha. Muitos países disseram que vão esperar o desenrolar das eleições para se pronunciar.
No sábado, Micheletti foi além dos frequentes apelos para que a população vote, mas também pediu para que o povo continue apoiando quem for eleito "porque vão existir influências enormes boicotando o novo mandato".
Oposição e governo parecem concordar que o índice de comparecimento eleitoral pode ser usado nos próximos dias como arma política contra ou a favor da legitimação do pleito.
Neste contexto, os cerca de 1 milhão de hondurenhos aptos a votar que vivem nos Estados Unidos podem se transformar em outro ponto de discórdia. Os que defendem as eleições dizem que a participação dos eleitores no exterior, que tradicionalmente não costumam votar, deve ser excluída dos cálculos finais.
O comparecimento de 56% nas últimas eleições, de 2006, levou em conta estes eleitores.
Rumores e observadores A oposição lançou um "toque de recolher popular", pedindo para que a população fique em casa neste dia.
Circulam no país, incluindo na imprensa oposicionista, diversos boatos sobre potenciais atos de violência que ocorreriam no dia da votação. O governo nega os rumores e afirma que a segurança será garantida por cerca de 30 mil integrantes das Forças de Segurança em todo o país.
Durante a semana passada, ocorreram pelo menos dez explosões de pequeno porte em incidentes separados em diversas partes do país, deixando uma pessoa ferida. Nenhuma grande instituição como a Organização das Nações Unidas (ONU), Organização dos Estados Americanos (OEA) ou a União Europeia enviou observadores para monitorar a lisura do pleito. Estão presentes no país, segundo o Tribunal Eleitoral hondurenho, 445 observadores de 31 países.
Críticos dizem que estes observadores seriam ou afinados ideologicamente com o governo ou estariam pouco familiarizados com a função de monitorar eleições e com o sistema, parcialmente digitalizado, de votação hondurenho.
Histórico A crise política em Honduras teve início em 28 de junho, quando o presidente eleito do país, Manuel Zelaya, foi destituído do cargo pelas Forças Armadas, acusado de violar a Constituição, e em seu lugar assumiu um governo interino, liderado pelo antigo presidente do Congresso, Roberto Micheletti.
A deposição foi condenada por diversos países, entre eles o Brasil e os Estados Unidos, além de organizações como a OEA e a União Europeia.
Zelaya voltou clandestinamente a Honduras e se abrigou na embaixada do Brasil, onde está desde setembro.
Na próxima quarta-feira, como parte de um acordo intermediado pelos Estados Unidos, o Congresso deve votar se Zelaya voltará a ocupar a Presidência até o final de seu mandato, em 27 de janeiro.
Micheletti afastou-se do cargo provisoriamente, podendo voltar ao poder dependendo da decisão do Congresso no dia 2.
sábado, 7 de novembro de 2009
Em Honduras, o acordo Micheletti-Zelaya vira cinzas
Uma semana depois de ter sido firmado, virou pó o acordo que devolveria Honduras à normalidade institucional.
Intermediado por negociadores dos EUA e da OEA, o acerto tropeçou já no primeiro passo.
Previra-se a formação de um gabinete de conciliação até esta quinta (5). Teria representantes dos dois lados.
Um pedaço da equipe seria indicado pelo presidente golpista Roberto Micheletti. Outro, pelo deposto Manuel Zelaya.
Para abrir caminho à pacificação, o gabinete golpista renunciou na noite passada. Mas Zelaya negou-se a indicar os seus prepostos.
Micheletti deu de ombros. E compôs a nova equipe mesmo sem os nomes do desafeto.
Zelaya declarou que o acordo está morto. Mandou dizer que o responsável pelo fracasso é Micheletti, que culpou Zelaya.
No miolo da fogueira, arde uma pergunta: quem vai chefiar o gabinete da conciliação?
Pelo acordo, caberia ao Congresso hondurenho decidir se Zelaya será ou não restituído à presidência.
O diabo é que não foi marcada uma data para a deliberação. E, ao cabo de uma semana, o Congresso não moveu uma palha.
Daí a recusa de Zelaya em levar nomes à mesa. De quebra, voltou a vociferar contra as eleições presidenciais marcadas para o final de novembro.
Afirma que, realizado sob Micheletti, o pleito será ilegítimo. Ou seja, voltou-se à estaca zero.
Patrona do acordo que fixou coisas definitivas sem definir as coisas, a OEA cobra o cumprimento do que foi celebrado.
Restabelecido o impasse, Zelaya continua desfrutando das instalações da embaixada do Brasil, convertida em hospedaria terceirizada do companheiro Hugo Chávez.
Escrito por Josias de Souza às 18h29