sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Militares de MS narram drama vivido pela tragédia no Haiti



Paulo Xavier


Com um misto de alegria por ter voltado para casa e a tristeza por deixar um Haiti arrasado, 26 militares do Exército em Mato Grosso do Sul, que desembarcaram en Campo Grande na última quarta-feira, após seis meses no país, cuja Capital, Porto Príncipe, foi devastada por um terremoto que matou ao menos 150 mil pessoas, relataram na manhã de hoje que o desejo era ficar lá ajudando a população ainda assustada pela tragédia e que o pensamento de agora é reencontrar os familiares.
Com um semblante cansado, os militares contam que o trabalho de engenharia (construção de vias, orfanatos, escolas) realizados por eles antes do terremoto foi transformado em uma operação pela busca de encontrar um vestígio de vida em meios aos escombros que destruíram o país, como conta o 1º sargento Douglas, de Jardim. “No dia do terremoto, o nosso trabalhou se transformou, fizemos parte das equipes de remoção de escombros e corpos. A cidade ficou muito destruída, muitos corpos. Chegamos ao Brasil com o dever cumprido, mas essa alegria ficou um pouco abalada por causa do terremoto. Parece que ficou alguma coisa pendente, queríamos ter deixado o país melhor do que encontramos. A vontade era de continuar ajudando, mas a ordem era voltar e a vontade de encontrar a família é muito grande.”, afirma o sargento. A tristeza dos militares também é representada pelo Sargento Campos, de Aquidauana que trabalhava na ala de comunicações entre as tropas, que afirma que o desejo era continuar a ajudar “Veio o terremoto, tivemos que deixar a tristeza de lado, superar e ajudar uma população que já vivia com muito pouco e agora não tem nada. Queríamos voltar ao Brasil e dar a notícia de que tudo ficou melhor, mas não foi possível”. Porém, no meio de tanto medo e destruição, os militares também relataram que às vezes a esperança retomava, quando uma pessoa era encontrada com vida. Nesse momento, o desespero acabava dando lugar para a esperança, já que todos vibravam quando uma pessoa era encontrada com vida. “Essa foi a segunda vez que eu fui para o Haiti, na primeira havia muito lixo e muita pobreza. Estava melhorando, nós estávamos prontos para ir embora, teve o terremoto e o povo do Haiti está sofrendo muito. Você só via tudo caído e corpos espalhados pelo chão. Houve momentos de alegria como o resgate de três pessoas em um hotel. Mas é triste ver que um país que teve várias melhorias voltou a zero. Agora queremos só ver nossas famílias, mas queríamos ajudar também”. Volta por cima Quando perguntados se após essa tragédia, o país conseguirá se reerguer de novo. Os militares afirmam que sim e que essa certeza repousa na força que o povo do Haiti tem e que, com a ajuda do exército será possível fazer com que o país volte a ter esperança. “Esse povo por si só é muito forte, acho que com o apoio das Nações Unidas, tudo será reconstruído. O povo é muito forte, mesmo com a pobreza e miséria, eles tinham um sorriso fácil que ficou meio apagado, como não poderia ser diferente, mas as pessoas já estão trabalhando, é um povo parecido com o brasileiro, é muito forte”. Próxima ida Segundo informações do Comando Militar do Oeste, há um rodízio de equipes que vão nas missões no Haiti. A próxima formada por militares do CMO ocorrerá em janeiro de 2011. Para estas missões, eles recebem um treinamento de 4 a 5 meses obedecendo os padrões da ONU. Para ir a estas missões, todos têm que ser voluntários. Quando perguntados se gostariam de voltar para o Haiti, os militares afirmam que depois de matarem a saudade da família, se forem requisitados voltariam ao país para tentar reconstruí-lo.
Alessandra de Souza

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