sábado, 16 de janeiro de 2010

Três dias após terremoto, clima de tensão e caos se eleva no Haiti

Três dias após o terremoto que devastou o Haiti e pode ter deixado até 100 mil mortos, o país caribenho vê o clima de tensão se elevar, conforme a ajuda humanitária não chega efetivamente para a maioria da população e mais pessoas sucumbem à falta de socorro médico.


O tremor de magnitude 7,0 ocorrido na terça-feira pode ter matado entre 50 mil e 100 mil pessoas, afirmou nesta sexta-feira a Organização Pan-americana de Saúde, ligada à ONU (Organização das Nações Unidas). Já o CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) apontou ontem para um número entre 45 mil e 50 mil vítimas.


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No único número concreto sobre a extensão da tragédia, o presidente do Haiti, René Préval, disse ontem que 7.000 corpos já foram colocados em uma vala comum. "Já enterramos 7.000 em uma vala comum", disse Préval a repórteres no aeroporto da capital, Porto Príncipe, enquanto acompanhava o presidente dominicano Leonel Fernández, o primeiro chefe de Estado a visitar o Haiti depois do devastador terremoto.


Apesar da intensa mobilização internacional para o envio de ajuda humanitária --em forma de equipes de resgates, equipamentos, mantimentos e dinheiro--, ela ainda não chegou para a grande maioria dos haitianos. Desabrigados e sem ter como retirar parentes dos escombros ou enterrar os corpos, a tensão começa a tomar conta das ruas de Porto Príncipe.


"Infelizmente eles estão lentamente ficando mais impacientes e com raiva", disse David Wimhurst, porta-voz da Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti), à BBC. "Nosso maior problema é a insegurança", disse por sua vez Delfin Antonio Rodriguez, comandante da equipe de resgate da República Dominicana, ao canal britânico. "Ontem eles tentaram roubar alguns de nossos caminhões. Hoje quase não conseguimos trabalhar em alguns lugares por conta disso."












Ariana Cubillos/AP
Corpos são amontoados na frente do necrotério de Porto Príncipe após o terremoto; situação deve levar a epidemias no Haiti.
Corpos são amontoados na frente do necrotério de Porto Príncipe após o terremoto; situação deve levar a epidemias no Haiti.



Ontem também ocorreu um boato de que um depósito de alimentos da ONU teria sido saqueado. Porém, a informação não foi confirmada.


A mesma sorte não teve um supermercado de Porto Príncipe, informou um jornalista da agência de notícias France Presse que presenciou a ação. Várias pessoas saquearam tudo o que encontram dentro do supermercado, disse o jornalista.


A limitada infraestrutura do Haiti, ainda mais precária após o terremoto, é o principal obstáculo para que a ajuda chegue aos necessitados. De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley, oficiais americanos avaliaram que o aeroporto de Porto Príncipe, que tem apenas uma pista, só pode operar 90 decolagens e pousos por dia --número que ainda não foi alcançado.


Segundo Crowley, a chegada do porta-aviões Carl Vinson, com 19 helicópteros, dará ao Haiti uma infraestrutura equivalente a um segundo aeroporto. Os Estados Unidos estão tentando construir um heliporto provisório próximo ao aeroporto de Porto Príncipe para ajudar a entregar água, comida e medicamentos.


Brasileiros


Um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) transportando militares brasileiros feridos no terremoto que atingiu o Haiti pousou na base aérea do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na grande São Paulo, por volta das 12h30 de hoje. Os mais feridos foram levados para hospitais, enquanto os outros falaram com jornalistas.


Pouco antes, o avião C-130 Hércules da FAB (Força Aérea Brasileira) com quatro civis brasileiros repatriados do Haiti aterrissou na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. Entre os brasileiros, estão os dois filhos de uma funcionária brasileira da ONU (Organização das Nações Unidas) que sobreviveu ao terremoto devastador de terça-feira (12).


O ministro Jobim afirmou na madrugada desta sexta-feira, ao desembarcar em Brasília, vindo do Haiti, que 17 brasileiros morreram no terremoto. Segundo reportagem de Fábio Zanini, da Folha de S. Paulo, Jobim afirmou que havia 14 militares e três civis brasileiros mortos. Os militares já haviam sido confirmados pelo Comando do Exército na manhã de ontem. Os corpos dos militares mortos devem chegar ao Brasil no domingo.


Já os civis incluiriam a médica e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, cujo velório acontece nesta sexta-feira em Curitiba, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


O ministro afirmou ainda que o número dois da Minustah, o brasileiro Luiz Carlos da Costa, está morto mas seu corpo ainda não tinha sido encontrado sob os escombros.


Jobim confirmou ainda quatro militares desaparecidos que, segundo ele, estariam mortos. O Comando do Exército mantém informação de que 14 militares morreram e que as buscas pelos desaparecidos continuam.


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